No dia 24 de janeiro de 2011, estivemos no Coito, zona rual do município de Marcelino Vieira, em atividade relativa ao Programa de Plantio do Girassol, na tentativa de consegui mais adesões ao projeto, já que o número de trabalhadores ainda é pequeno frente as previsões de inverno que temos para este ano. Atualmente estamos com 36 trabalhadores com um total de aproximadamente 25 hectares a serem cultivados com esta oleaginosa. Mesmo debaixo de um chuva torrencial e a precariedade das estradas que diga-se de passagem, estão cada vez mais intransitáveis, conseguimos chegar na residência do Senhor Cosmo Belo, lá para as 17:40 h. Seu Cosmo, figura ilustre e trabalhadora deste município nos deu na verdade uma grande lição de sabedoria. Na casa dos seus 63 anos e uma imensa disposição para o trabalho, ele nos revelou que já havia cortado com trator boa parte das terras que possuia e que estaria fazendo o plantio até o final da semana, com milho e feijão, culturas típicas dessa região do Alto Oeste. Mas no decorrer da conversar, apresentamos a proposta do cultivo do girassol e ele de prontidão disse que estaria disposto a contribuir com uma area de 0,3 ha para ter mais uma experiência de vida com este cultivo. Nas suas palavras, parecia querer acrescentar mais uma atividade ao seu curricullum vitae, coisas de um agricultor profissional que deixa de herança todo o seu aprendizado, o exemplo de suas lutas, sua dedicação a terra, aos valores morais, a educação de antigamente, já que seu neto de 7 anos já o acompanha em suas atividades diárias, relatando durante a conversa que gostaria de ser igual ao seu avô. Vimos ai a perpetuação desta atividade tão sagrada que é a agricultura, que mesmo nos dias de internet, ícones da televisão, grandes cantores, ainda desperta desejos e sensibilidade das novas gerações. Me senti horrado em poder participar de um trabalho tão valorozo, tão engrandecedor, pois no silêncio das nossas ações, construimos junto com os trabalhadores a capacidade de alimentar o mundo, preservar o meio ambiente, aprender e ensinar ao mesmo tempo, pois como diz Paulo Freire, não há conhecimento maior que o outro, existe apenas conhecimentos diferentes, e eu ali estava diante de um dos maiores professores que já tive, pois continuo aprendendo e aprimorando meus conhecimentos. Mostramos a ele como se deveria manejar a cultura do girassol e os tratos culturais e foi dai que ele começou a relatar uma vasta experiência no campo. Disse que sentia um enorme orgulho do que fazia e que era um homem realizado com aquela vida, com a profissão que Deus havia lhe dado, isso sempre com um grande sorriso no rosto e uma expressão serena de um homem que continua a acreditar que as coisas são possíveis, mesmo com seus problemas e impecilhos. Relatou que diferente dos outros, não faz nenhum tipo de previsão para o inverno, e que só começa a acreditar em uma boa estação chuvosa quando escuta durante a noite o barulho da chuva tocando o chão seco da nossa terra. E para nossa surpresa, nos apresentou algumas variedades de feijão que ele a um bom tempo vem plantando, disse que prefere as sementes por ele adquiridas, em detrimento as fornecidas pelo governo do estado, pois estas não são tão adaptadas a nossa região quanto as que ele possui. Durante a conversa, relatou as características de duas variedades que ele vem plantando, uma denominada de Pingo de Ouro, com grãos alongados, grandes, de coloração creme clara, precoce (produção com 45 dias), flores roxas de tamanho grande, de crescimento indeterminado, com vagem chegando a 30 cm de comprimento com 19 sementes. Esta variedade, segundo relato de seu cosmo, tem grande aceitação, pois tem excelente palatabilidade e pelas condições locais é resistente aos veranicos, retomando a produção após períodos de estiagem. Esta variedade também apresenta resistência a pragas, sendo que as mais frequentes é o pulgão e a vaquinha. Esta variedade pode ser uma das alternativas para o pequeno produtor da nossa região, visto a viabilidade de plantio que ela oferece. Outra variedade que ele dispõe e a Cearense, colhida na região do perímetro irrigado de Pau dos Ferros, esta apresenta grãos menores, com cor vaiando de marrom claro a um creme mais escuro. É uma variedade também precoce (produção aos 45 dias), com crescimento indeterminado, flores roxas de tamanho grande, com vagem de tamanho médio chegando a 20 cm. Esta variedade é pouco disseminada na região sendo que a sua palatabilida e um dos pontos positivos do seu cultivo. Estas variedades apresentadas por este pequeno produtor, faz parte do grante banco de germoplasma que temos na nossa região e que se encontra escodida, sem catalogação e sem incentivos que viabilizem a sua produção.
Texto: Junior Barbosa
Engenheiro Agrônomo
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